Buena Vista Social Club



Minha amiga Tanya me disse que eu TINHA que ver esse filme, que era lindo, que era emocionante, que era poético e que a música era divina. Ela também disse que era super difícil pegar esse filme para alugar na locadora, porque todas as cópias estavam sempre locadas. ‘É um filme independente de sucesso’, ela afirmou. Mas ela já tinha comprado o filme para ter só para ela, pois gostou tanto, tanto, tanto quando o viu pela primeira vez, assistiu duas vezes em seguida. E depois comprou o CD com as músicas do filme. Ela perguntou se eu conhecia música cubana. A Tanya nasceu na Rússia, e era mesmo mais provável que eu conhecesse a música cubana mais do que ela! Mas eu não conhecia e então ela trouxe o filme, que eu levei para casa para ver na sexta-feira a noite.

Eu realmente não conhecia nenhum dos nomes dos protagonistas do filme. Mas o diretor era o Wim Wenders. Pensei ‘que interessante! um alemão e a música cubana!’ - pois pelo menos o Wenders eu conheço. Mas música cubana? Nunca tive muita afinidade com música latina (fora aquele ano doido em que até vi a Mercedez Sosa e o Tarancon ao vivo!), e quis ver que negócio era aquele de Buena Vista Social Club.

Ry Cooder, um produtor e músico americano foi para Cuba para procurar músicas interessantes e talvez fazer um disco. Com seu filho Joachin Cooder de acompanhante, ele redescobriu um diamante cultural que estava enterrado e esquecido por anos. Coode encontrou músicos excepcionais, que estavam há anos sem tocar por descaso ou desinteresse do público ou de quem divulga música em Cuba. Ele encontrou o exímio pianista Ruben Gonzales, de 80 anos, que não tocava há dez anos e nem mais possuía um piano para praticar seus rápidos dedos musicais. Numa casinha modesta ele achou o cantor de 70 anos, considerado o ‘Nat King Cole de Cuba’, Ibrahin Ferrer, que fazia bicos engraxando sapatos. Juntaram-se a eles a magnífica Omara Portuondo, Eliades Ochoa e Compay Segundo, entre muitos outros artistas. Cooder produziu um CD, que vendeu milhões e ganhou Grammys em 1997. Em seguida o grupo, batizado com o nome de um clube tradicional de canções e boleros de Cuba - o Buena Vista Social Club, começou sua turnê pelo mundo, com shows esgotados em Amsterdã e a apoteose em New York, no Carnegie Hall.

O Filme de Wim Wenders conta essa estória de uma maneira delicada e poética. São lindas as cenas em Cuba - uma cidade bela, mas decadente e pobre, congelada numa bolha histórica sem manutenção. Intercalam-se entrevistas com os artistas, que contam seu passado glorioso e nos mostram seu presente de esquecimento e decadência. Não se mostra amargura. ‘Nós Acreditamos Em Sonhos’, diz uma pichação num muro da cidade. Os artistas da tradicional música cubana vivem o que o Pais lhes permite viver. E aproveitam a oportunidade que lhes eh oferecida, mostrando para o mundo sua música rica e cheia de talentos.

As músicas do filme não param de tocar na minha mente, assim como também lá flutuam as imagens dos rostos enrugados e doces desses artistas cubanos. Na segunda-feira vou devolver a fita de Buena Vista Social Club para Tanya e contar do quanto gostei e quanto me emocionei com esse pedacinho de poesia, ritmo e paixão chegados até mim pelas mãos de um americano, outro alemão e, por que não, uma russa!




| Fezoca Online | Cinema | Música | Crônicas | Links |