|The Chatterbox|

12/07/2001 Entry: "presentes"

Decreasing clouds - hi15° C/ lo3° C

Tô com vontade de esganar um tal gato mião.........

Recebi meu primeiro cartão de Natal – do meu irmão Paulo! Não foram somente as cartas que sumiram da minha caixa de correio. Os cartões de Natal também ficaram raros. Pacotes com revistas ou fitas de vídeo então..... nem sei mais o que é isso!! Anos atrás eu ouvi uma brasileira imigrante no Canadá dizer que com o passar do tempo a família vai esquecendo de você, não escreve mais, não manda mais nada pelo correio. Na época eu ouvi aquilo com horror e concluí que deveria ser só a família DELA, que a minha nunca iria me esquecer!! Hoje eu penso que a palavra ‘esquecer’, usada por ela, foi muito drástica. Acredito que o que acontece realmente é que todos se acostumam com a distância, com você viver em outro país. Você é que está fora da rotina de todo mundo! Já amadureci o suficiente na minha vida de expatriada para entender isso.

Não vou conseguir comentar um post que eu li na Meg , porque nem tenho retórica pra tanto. Só posso dizer que o maior presente foi ouvir as palavras da Clarice Lispector, lidas para mim em voz suave numa ligação telefônica. E quando eu, já com olhos cheios de lágrimas, murmurei ‘que lindo!!’, a voz dessa querida amiga me disse ‘é pra você!’. Nem sei se eu consegui agradecer direito..........

Hoje vou precisar de um ‘drink’............... hihihi!




3 comentários

Fer, querida:
First of all: esganar um gato? Vc??? nuacredito.
não seria outro pet?
***
Second of all:-): Eu posso entender, e se sinta plenamente compreendida, quando vc fala da distância e do esquecimento.
Fer, esse é um problema sério e creio que posso partilhar minha experiência com vc e com todos que lerem: Vivo há anos fora da terra em que nasci. Já conheci exilados, estrangeiros refugiados. Seja o exílio forçado ou voluntário, n-a-da, nada nem ninguém pode compensar, suprir um sentimento que só está dentro daquele que está ausente, e afoga ou em tormentoso sil~encio, ou em gestos que ressoam em voz alta, a angústia de nunca estar inteira quer num lugar ou no outro.

Quem me ler apressadamente, vai dizer que a febre alta em que estou, me atingiu o cérebro, e que eu devia dizer palavras de alívio e não de aprofundamento da *ferida*, mas não é isso.
Eu posso falar porque quero que vc saiba que esse sentimento é compartilhado por todos, todos os que desde que o mundo é mundo, tiveram um dia que deixar o solo em que nasceram. Hoje, há estudos sérios em que se afirma que pertencer a um território é algo inerente à condição humana. Adaptamo-nos ..mas não sem pagar um preço.
deixo aqui pra vc uma citação do poeta alemão Heinrich Heine, que vê na figura de Dante um protótipo dos *males da ausência*:
"Quando Dante atravessava verona, o povo apontava-o com o dedo e segredava: 'Ele está no inferno". E como poderia ele, de fato, sem aí viver, descrever-lhe todos os tormentos? Ele não os tirara de sua imaginação: ele os vivera, experimentara, vira e sentira. Ele estava de verdade no Inferno, na cidade dos condenados: Ele estava no exílio."
***
Claro que isso é no contexto da obra-prima de dante *A Divina Comédia*... e mutatis mutandi, é o que todos nós que vivemos fora temos: alegrias profundas , e sentimentos de *falta*-igualmente- profundos.
Só quem vive, entende.

meg @ 12/07/2001 07:38 PM




Estive lendo o comentário que você colocou para a Lu, incentivando-a a não faltar ao café de amanhã. Me bateu a idéia: puxa, como a Fer é legal! Ela está lá longe, não vai ao café e no entanto está aqui, preocupada com uma amiga e tentando mostrar-lhe como é bom estar junto. Pois então, chego aqui e encontro o seu post de hoje, falndo de quê? Da distância que separa as pessoas, que as faz esquecidas, por conta do dito afastamento.
Fer, você é a "pessoa distante" mais próxima que eu conheço. Sua sensibilidade com as pessoas faz com que você esteja sempre por perto. Uns mares, uns oceanos, algumas terras não são nada -- pode acreditar!
Um b.

joyce p/ fer @ 12/07/2001 05:06 PM




Fer,

É, a gente se acostuma com tudo com a ausencia e até mesmo com aquela dorzinha da saudade.

Jomara @ 12/07/2001 03:28 PM






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