Com os Olhos de Janis
The Roots Band entrou no palco exatamente às 8pm. O auditório no Rose Ballroom do Hotel Casino John Ascuaga's Nugget estava completamente lotado, nenhuma cadeira ficou vazia. O público enfeitado com seus melhores trajes, jóias mais brilhantes, perfumes mais inebriantes, sorrisos mais largos e felizes. Mas não era para menos, pois aquela seria a cerimônia de adoração da deusa do blues, o ícone da música americana - Etta James.
Duas guitarras, três metais, um piano, um baixo e uma bateria. The Roots Band tocou duas músicas, esquentando para a entrada da mais esperada, do objeto da adoração da platéia, que finalmente chegou quando as luzes se apagaram se podia apenas ver as sombras de uma cadeira de rodas elétrica movimentando-se pelo palco. Etta James está fisicamente tão gigantesca quando o seu carisma e sua fama. Ela não pode mais andar ou cantar em pé. Ela é transportada para o palco com a ajuda de uma maquininha com rodas e senta-se numa cadeira no centro do palco.
A música começa e a emoção toma conta da platéia. Todos querem pôr os olhos na musa, na diva, na 'larger than life' Etta James. E as luzes ascendem-se e lá está ela: sentada, com um vestido negro bordado de pedras, um decote acentuado e fendas laterais deixando à mostra suas pernas, que ficam afastadas, numa posição que só mesmo uma artista como James ousaria se colocar. Com 62 anos, o famoso nariz arrebitado e sobrancelhas arqueadas, cabelos curtos e loiros (a loirice foi sua marca registrada na juventude), Etta James soltou a voz com 'Breakin' Up Somebody's Home' fazendo correr eletricidade pelo salão lotado.
O guitarrista mais a frente é o Leo - um italiano de boininha. Ele toca sua guitarra com discrição. O segundo guitarrista é um japinha de bigodinho chamado Bobby que toca sua guitarra forrada de pele de cobra com entusiasmo, sempre andando pelo palco. Os metais com Lee, Tom e Jimmy Z - são dois trompetes e um saxofone (o saxofonista também tocador de gaita) no background, assim como o baterista Donto Metto James (o filho mais velho da cantora) e o baixista Sametto James (o filho mais novo) quase invisíveis. O pianista com um chapéu de leopardo é o David Matthews, mas não 'aquele David Matthews, mas o nosso David Matthews', esclareceu a diva na apresentação da banda.
Etta James ao vivo é bem diferente de quando a ouvimos numa bolacha. Além da sua presença incrivelmente carismática e sensual, ela também improvisa o tempo todo nas músicas, esticando cada número com refrões inéditos, puxando pela participação do público, conversando e brincado com seus súditos embevecidos. E assim foi nas poucas canções de um show relativamente curto, mas que deixou a sensação de se ter provado de um néctar raro e precioso. Ouvimos a estória de uma garota que diz preferir ficar cega do que ver seu homem partir em 'I'd Rather Go Blind', depois aprendemos que devemos chamar nossa ídola de 'Mama' quando ela pergunta 'do you know who I am?' várias vezes e depois responde com voz sensual 'I'm your Mama!' e canta 'Come to Mama'. Em 'I'll Take Care of You' e 'Trust Me', Etta não deixa nenhuma palavra sair de sua boca sem ser complementada por um gesto sexual - a língua para fora da boca fazendo acrobacias, as mãos gordas de unhas longuíssimas acariciando os próprios seios ou descendo pelo corpo até o ventre, chegando às pernas abertas, simulando sexo oral com o microfone e fazendo caras e bocas de garota safadinha. Essas interpretações quase obscenas também figuram como sua marca registrada. E Etta James não deixa ninguém desapontado.
A público grita e pula em euforia massiva quando Etta interpreta um de seus maiores sucessos - 'At Last' e o show termina no final de 'I Sing The Blues'. Apagam-se as luzes, percebemos o movimento da cadeirinha elétrica e Etta James deixa o palco sem encore, sem agradecer os aplausos que ecoam pelo Rose Ballroom por longos minutos. Todos estão cheios de expectativas por ouvir pelo menos mais uma música, mas a diva não regressa e o público vai deixando o salão com caras de êxtase e encantamento, por terem tido a oportunidade de ouvir e cantar com a uma das maiores vocalistas da historia do blues. A sexy e fantástica Etta James.
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