Findi Mundo
As noites de sexta-feira não têm mais aquele sabor delicioso de noite livre. Os sábados e os domingos também não me deixam naquele frisson de querer
aproveitar cada minuto. Não tô achando ruim, muito pelo contrário, até
que estou curtindo descansar.
Descansar era uma palavra
sagrada pra mim. Dormir pesado, capotar, bocejar até doer o maxilar, ter
ataques de irritação e desespero, pois o corpo cansado não colaborava com
a mente que queria fazer coisas, escrever, pensar, transar, ver
televisão.
Ver televisão é uma atividade
que não me entusiasma mais. Eu curto o 'Saturday Night Live', quando não
é mais live... É um repeteco que passa toda noite no Comedy Center.
Sabem que eu nem sei se o nome do canal é esse mesmo? Agora que fico em
casa de manhã, eu ligo a tv pra tomar café com a Martha Stewart. Nem presto
atenção no que ela faz ou fala na tela, porque estou lendo o Sac Bee. Entre
o café com leite morno e o waffle com geléia matinal, somente há tempo
para ler os quadrinhos. Melhor é ouvir música!
Ouvir música é uma coisa
que eu adoro fazer, além de ir ao cinema. Sábado fomos fazer nosso income
tax em Sacramento e voltamos felizes porque tivemos um retorno substancial
(que felicidade não estar mais trabalhando naquele emprego que me consumia
as noites, mais trinta por cento de taxas sobre meu income....!!) e então
fomos de bom humor pro cinema. Na saída eu quis comer batata frita verdadeira
(não as congeladas) e então sugeri que fossemos ao G Street Pub, que é
um bar, mas serve batata frita de verdade. Eles teriam uma banda tocando,
nós pagamos o cover de $3 cada e eu perguntei que tipo de música a banda
iria tocar. O porteiro-caixa, de gargantilha punk e cara de entediado,
me gruniu algo que eu entendi como 'kind of rock, more funk, rock 'n' funk,
more like the Dead (Grateful Dead), but no so 70's'... Resolvemos arriscar.
Comemos, e eu fiquei na abstinência alcoólica pois fui designada pra dirigir,
e esperamos pra ver o show.
O show só foi começar às
11pm, e então nós batemos papo e eu fiquei olhando três meninas que sentaram
ao nosso lado. Elas eram umas personagens de cartoon! Eu me diverti olhando
o jeitão delas, que tavam numa fofoca lascada! Uma loira, uma ruiva e uma
morena. Uma de rabo de cavalo, outra de maria-chiquinha, outra com um corte
desestruturado preso com um grampinho. As três bem maquiadas, sobrancelhas
bem depiladas e arqueadas e os trejeitos mais exagerados que eu já vi.
Nada parecia real nelas, mas ao mesmo tempo tudo era extremamente simpático.
Elas eram como personagens, como alguém que vemos na tela da tv ou do cinema, mas
realmente não existe. Elas bebiam um drink cor-de-rosa e gesticulavam, levantavam
as sobrancelhas, arregalavam os olhos, faziam mil poses e virava e mexia
saiam pra fora pra fumar um cigarro.
Cigarro é um nojo! Me desculpem
os fumantes, mas meu pai me torturou minha infância inteira com aquela
fumacê na cara e então eu peguei OjeRiZa!! Eu ainda lembro o fedor
de cigarro que ficava na nossa roupa quando íamos a bares, discotecas, danceterias,
etc... No Canadá eu colocava meu casaco na varanda, no menos trinta mesmo,
pra ver se melhorava a caatinga do fumacê dos cigarros dos outros. Era
um saco, e eu ficava sem voz, com o nariz ardendo, a roupa podre..... Mas
aqui na Califórnia o pessoal vai fumar lá fora! É uma maravilha! Voltamos
pra casa impecáveis - podemos estar caindo de bêbado, tri-fudidos, putos,
armafanhados, mas a roupa esta cheirosinha, só um pouco ensuvacada de tanto
dançar com a banda funk.
A banda funk subiu ao palco
com duas guitarras, um baixo (porque será que o baixista tem sempre aquele
jeitão zen tocando, hein?), uma bateria e um teclado. Começaram super bem
e eu já comecei a me rebolar na cadeira. O som pifou e eles desceram
do palco. Ninguém xinga... todo mundo pede outra cerveja. Tantas cervejas
diferentes e eu de motorista. bah! Mas a banda voltou e tocou num swing
realmente kind of rock, more funk, rock 'n' funk, more like the Dead (Grateful
Dead), but no so 70's'... Um misto de George Clinton com Van Morrison,
se é que dá pra vocês me pescarem nessa. Mais pesada que os Deads, mais
leve que os Chilli Peppers. A banda tocou por 2 horas, bem alegre
e animada!
Alegre e animada eu acordei
no dia seguinte, pra constatar que meu network estava down. Como eu tinha
descansado um sono de beleza em dose pra elefante, invés de me irritar
com a impossibilidade de checar e-mail, coloquei as luvas amarelas e fui
limpar o chão. Esfrega, esfrega, sprayia, sprayia, tira a craca de duas
semanas, recicla os jornais, deixa tudo limpinho, só pra ser sujo tudo
de novo... É assim o ciclo da vida. Dai fui pra Vacaville, que queria
comprar uns vestidos na fabrica da Gap pras minhas sobrinhas, que as três
fazem aniversário agora em março! Fui com a lista: vestidos na Gap, tinta
pra impressora na Compusa, cereal, leite, pão, queijo, água no Safeway.
Estava entrando em Vacaville, distraída cantando com Neil Young 'my, my,
hey, hey, rock 'n' roll is here to stay.' quando um sujeitinho num carro azul
claro todo esbagaçado bateu na minha traseira. SantaMãe, que susto! Pelo
espelho retrovisor eu vi ele agitando as mãos dizendo que tudo estava bem,
e continuei dirigindo, xingando e tremendo de susto, até chegar num lugar
seguro pra parar. O carrinho azul atrás de mim e eu muito brava 'o que
ele quer? pentelho!'. Parei o carro e fui ver o estrago, que gracasadeus
era nenhum e o zé mané no carrinho azul parou logo atrás. Eu fui falar
com ele que logo disse 'desculpa! não quis te assustar, mas meu pé escorregou
do breque!'. Eu disse 'you scared the hell out of me, man!' e ele balbuciou
mil palavras de desculpas: foi sem querer, ainda bem que não teve estragos,
só queria saber se você estava okay. Eu ri 'estou okay' e ele pediu mais
mil desculpas. Fiquei pensando que sorte que não quebrou nada, senão iria
ser um porre tratar do seguro, do conserto....
Ah!!
Ah!! Quanta banalidade.....
Findi no fim de mundo, brejo seco, Davis - Califórnia!
E enquanto isso em outros lugares é Carnaval.....
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