O Contador de Estórias Leonard Cohen
Leonard Cohen conta que recebeu suas primeiras lições de violão de um
imigrante espanhol, na Montreal dos anos 40. Seu professor era um homem
solitário e que seduzia as mulheres com sua música triste. Em apenas quatro
lições, o espanhol desconhecido ensinou-lhe o segredo do encantamento
através das cordas do instrumento e, suicidando-se algumas semanas depois,
apresentou o seu pupilo a um mundo de obscuridade e decadência.
Mais tarde, estudando na Universidade McGill durante década de 50, Cohen
apaixonou-se pelos escritos do poeta catalão Frederico Garcia Lorca, que
seria a sua segunda influência vinda da terra espanhola. Dessas
experiências derivou-se o aspecto melancólico que iria permear toda a sua
obra, como poeta, músico e pop icon.
"Give me back my broken night
My secret room, my secret life
It's lonely here
I've seen the future, brother:
It is murder."
(The Future - 1992)
Escrever poemas e novelas que não vendiam, levou Leonard Cohen a finalmente
optar pela carreira de compositor. Sua primeira canção "Suzanne", foi
gravada pela cantora folk canadense Judy Collins em 1966. Depois disso seu
nome tornou-se conhecido, abrindo caminho para o lançamento de seu primeiro
álbum, "Songs of Leonard Cohen", dois anos depois. O sucesso veio depressa,
levando as músicas soturnas e tristes do poeta Cohen para outros
continentes e transformando sua figura num mito. Se auto nominando um
Trovador, este multifacetado artista é realmente um contador de histórias.
Para cada música ele tem uma explicação. Cada poema tem uma história real
relacionada. "Suzanne" - a música que lançou Leonard Cohen no mercado
musical e se tornou um clássico, conta uma história que realmente
aconteceu, com uma real e carismática Suzanne, cujo corpo foi acariciado
por Cohen de uma maneira não muito comum : "Eu toquei seu corpo perfeito
com minha mente, pois não havia outra maneira...porque ela era casada e
adorava o marido", ele relata.
"Suzanne takes you down
To her place near the river
And she feeds you tea and oranges
And you Know that she will trust you
For you've touched her perfect body
with your mind."
(Suzanne - 1966)
Em outra história Cohen conta sem amargura que, mesmo sendo amigo de Allen
Ginsberg, os poetas da Beat Generation não o chamaram para fazer parte do
grupo. Ele argumenta que talvez isso tenha acontecido pelo fato de ele ser
um adepto dos ternos clássicos e bem cortados, em contrapartida com os
jeans e t-shirts esgarçados, que eram o uniforme do líder do movimento
Beat, Jack Kerouac. Cohen explica que suas preferências vestuárias estão
diretamente relacionadas com o status social da sua família: "Eu tive
acesso a boas roupas e boa educação, e isso faz parte da minha
personalidade. Eu não seria a mesma pessoa vestindo outra coisa que não
fosse um elegante terno e portanto não posso negar quem eu sou e de onde eu
vim usando uma calça jeans.".
"Like a bird on the wire
I have tried my way to be free
Like a knight from some old-fashioned book
I have saved all my ribbons for thee."
( Bird On The Wire - 1968)
Aclamado como um profeta revolucionário e filósofo visionário, Cohen passou
anos em peregrinação, morando basicamente em hotéis e apartamentos baratos.
Estes ambientes e seus moradores serviram de inspiração para muitas de suas
músicas. A foto da capa do álbum "The Best of Leonard Cohen" foi tirada
enquanto ele se olhava no espelho de um hotel em Milão. Ela mostra um jovem
Leonard Cohen de terno preto, refletido num espelho com moldura de plástico
e tendo ao fundo uma cortina horrorosa. Num cenário como este estava Janis
Joplin, retratada em "Chelsea Hotel" (aquele hotel decadente de 9 1/2
semanas de amor - o filme!) como uma star ninfomaníaca desprovida de beleza
. Anos depois Cohen admite ter se arrependido da maneira pela qual ele a
descreveu na música. Mas agora, quem se importa??
"I remember you well in the Chelsea Hotel
You were famous your heart was a legend
You told me again you preferred handsome men
But for me you would make an exception"
(Chelsea Hotel n. 2 - 1974)
Durante os anos 70 Cohen mudou-se para a ilha de Hydra na Grecia, onde
passou 7 anos escrevendo poemas e compondo música. Foi a época em que ficou
distanciado do spotlight. Embora estivesse consagrado no mercado de música
europeu, o ostracismo veio para seus trabalhos na América do Norte. Só
quando revivals começaram a ser organizados dentro do movimento Pós-Punk,
na Inglaterra no
começo dos anos 80, é que Cohen iria voltar para o centro do mercado
musical americano. Morrisey, Echo and The Bunnymen, Nick Cave e Jesus and
Mary Chain foram os responsáveis pelos primeiros covers das suas músicas. A
cover-mania solidificou-se realmente em 1988 , quando "I'm Your Fan" - um
álbum-homenagem com versões de R.E.M. , Pixies, John Cale e Nick Cave ,
entre outros, para antigos sucessos de Cohen , foi gravado nos EUA e teve
um sucesso massivo. Outro álbum lançado há dois meses atrás, "Tower of
Songs" é mais um trabalho de homenagem que artistas como Peter Gabriel,
Bono, Sting e Suzanne Vega prestam ao seu ídolo.
"There is a crack in everything
That's how the light gets in."
( Anthem - 1992)
Vivendo hoje numa cabana simples nos bosques e seguindo preceitos Budistas
nos seus afazeres diários, Leonard Cohen está novamente no centro do mundo
e no topo da moda como artista polivalente. Seu álbum "The Future" lançado
em 1992 foi um estouro de vendas e colocou-o em todos os canais da mídia.
Sua voz profunda e sexy ressoava novamente pelas emissoras de radio e
canais de TV no Canadá e EUA. Posteriormente um novo livro foi publicado em
1994 - uma antologia dos 30 anos de sua carreira, e colocou seu rosto
tranqüilo de homem maduro estampado pelas livrarias, jornais e revistas de
todo o
País, que não parece rumar para uma Cohen-Overdose, muito ao contrário. Aos
61 anos, Leonard Cohen está em sua melhor forma. Com cabelos grisalhos e
voz gutural, ele sussurra nos seus ouvidos:
"Nothing left to do...
I haven't been this happy since the end of World War II..."
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