Neil Young - A Legenda do Rock Canadense está de volta em novo álbum [1994]
Ele já foi chamado de Folk-Rocker, O Grande Lobo Solitário da Costa Oeste, Avô dos Punks e agora, O Guardião da
Sagrada Camisa de Flanela - O Avô do Grunge. E todos esses rótulos assentaram-se perfeitamente neste canadense
de quase 50 anos, que pode ser considerado um dos músicos mais ecléticos e intensos da história do Rock'n Roll.
Nascido em Toronto, Canadá em 14 de novembro de 1945, Neil Young passou sua infância travando batalhas com a
epilepsia, a poliomielite e a diabete; doenças que de uma maneira reversa ajudaram na formação de sua estranha e
única personalidade.
Em 1960, Young mudou-se para Winnipeg, após o divórcio dos seus pais. Foi lá que seu interesse por música
desenvolveu-se, levando-o à decisão de mudar-se para os EUA. Numa de suas raras entrevistas a imprensa
americana, Neil Young explica sua mudança para a Califórnia. " Meu país não podia apoiar as idéias que eu tinha.
Todos os sons que eu curtia estavam vindo da Califórnia. Eu sabia que só indo para lá eu teria uma chance." E assim,
em 1966 Young mudou-se da pequena Winnipeg para Los Angeles, a capital pop da América na época.
Buffalo Springfield foi sua primeira banda nos Estados Unidos, com quem tocou ate 1968. Participou
do grupo Crosby, Still & Nash - que teve seu nome incluído, Crosby, Still, Nash & Young , por um
curto período. Começou a década de 70 já trabalhando numa carreira solo e produzindo seus álbuns
mais criativo e conturbado. Em 1975 gravou "Tonight's The Night", um dos seus trabalhos mais
intensos, já totalmente direcionado para o movimento Punk, que despontava então no cenário
musical. E parte deste álbum a faixa "My My, Hey, Hey", com sua hoje famosa frase "It's
Better to Burn Out/ Than To Fade Away". Seus trabalhos durante toda a década de 70 foram tão
significativos e intensos, que lhe renderam a aclamação de "Artista da Década" pelas revistas
Rolling Stone e The Village Voice.
Desde então a produção musical de Neil Young esteve muito enraizada em elementos do Blues e Folk music. Mas as
mudanças radicais que a sua música sofreu durante a década de 80 causaram muita surpresa no público e na crítica.
Explorações inusitadas dentro do Rock experimental, com uso de computadores, Rockabilly, Synt-Pop a até cafonices
como Country Rock permearam seus trabalhos durante toda a década. Young colheu críticas negativas, fracassos de
vendas e até um processo movido contra ele pela sua gravadora na época - a Geffen Records, que lhe cobrou a "falta
de Neil Young style" nos seus recentes álbuns. Hoje essa radical virada de estilo e creditada a mudanças ocorridas na
sua vida familiar e a tentativas de estabelecer um meio de comunicação entre ele e seu filho Ben, nascido com uma
seria paralisia cerebral e incapaz de comunicar-se normalmente.
No começo da década de 90, Neil Young emerge novamente, com o lançamento do romântico e nostálgico álbum
"Harvest Moon", considerado uma apologia à vida hippie e a constatação de que o sonho continuava vivo. No próximo
ano grava um show para o MTV Unplugged que é lançado em disco. Sai excursionando com o grupo Sonic Youth,
redirecionando novamente seu interesse por coisas novas, desta vez dentro do cenário da música alternativa. Quando
seu álbum de 1994, "Sleeps With Angels" chega às rádios, meses depois do suicídio do vocalista do grupo Nirvana -
Kurt Cobain, Young já é aclamado o "Avô do Grunge". Gravado com sua antiga banda Crazy Horse, "SWA" traz um
Young com a mesma vitalidade dos seus trabalhos dos anos 70, mas com uma abordagem reciclada para a juventude
dos anos 90.
Com uma indiscutível habilidade para renovar-se, Neil Young nos brinda com mais uma agradável surpresa. Lançado
este ano, seu novo álbum "Mirror Ball" é um trabalho peculiar, trazendo o melhor desse dinossauro do Rock numa
embalagem extramodernizada. A backing band que o acompanha no disco é nada menos que os queridinhos do
Grunge Rock, Pearl Jam. As músicas falam dos problemas existenciais que tem assombrado inúmeras gerações.
Já na primeira música do álbum, "Song X", parecemos estar sendo transportados 20 anos no tempo. Guitarras
pesadas, uma melodia monótona e frases melancólicas nos dizendo que a procura dos jovens pelo seu Shangrilá é
atemporária. "Hey ho away we go . we're on the road to never. where life's a joy for boys and girls and only will get
better." se adapta a qualquer geração, seja ela hippie, punk ,grunge ou qualquer outra nominação. A discussão sobre
o aborto , que está gerando uma verdadeira guerra entre os Pro-Life e os Pro-Choice nos EUA e Canadá é exposta
em "Act of Love" como uma "guerra santa". Esta foi a música que trouxe Neil Young e Pearl Jam juntos neste novo
álbum e que sintetiza essa estranha, mas perfeita mistura entre o estilo Grunge e o estilo Young. Após tocarem juntos
no Voters for Choice Concert em Washington, "Acts of Love" inspirou Young a gravar um disco com a banda de
Seattle. Sob a batuta do produtor de Pearl Jam, Brendan O'Brien, todas as músicas do álbum foram gravadas em 4
dias.
"Peace And Love" é o trabalho de parceria entre Neil e Eddie Vedder nas letras e a única em que o vocalista do
Pearl Jam canta com Young - embora ele faça backing vocals em outras músicas.
Em "I'm The Ocean", Neil Young se apresenta para uma geração que possivelmente não o conhecia. "People my age
they don't do the things I do" ele diz. "I'm a drug that makes you dream. I'm the aerostar. I'm the cutlass supreme in
the wrong lane trying to turn against the flow. I'm the ocean.", com certeza nada melhor poderia defini-lo, porque
mesmo seu nome já diz tudo - "Jovem".
Bom, mas não pensem que este senhor grisalho já fez e disse tudo. Seu próximo trabalho, que brevemente chegará
aos nossos ouvidos será a trilha sonora para o novo filme do cineasta Jim Jarmusch, "Dead Man", onde Young
compôs todas as músicas de improviso e em tempo real, enquanto assistia as cenas do filme.
"Mirror Ball" chega ao público num formato diferente, sem a caixa plástica dos CDs e K7s. O suporte para o disco e
o encarte é todo em papel cartão marrom, com impressos em preto, totalmente ecológico. Mais anos 90 impossível!
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