The Filth and The Fury
Ver tv pra mim é como brincar de roleta russa, porque eu nunca
memorizo o dia dos shows, nunca sei o que está passando e não olho o
guia. Então tudo o que eu assisto é na sorte... passou pelo canal e
viu, pronto. Nos canais de filmes, quando eu consigo pegar um filme
desde o começo, solto rojões! Bom, ontem consegui ver um filme
inteiro, do começo ao fim, e era o documentário The Filth and The
Fury, do Julien Temple, sobre os Sex Pistols. Eu nunca fui
simpatizante dos punks, porque sempre fui maníaca por banhos e achava
o visual e atitude deles muito sujo. :-) Mas algumas das idéias dos
iniciantes do movimento punk eram muito revolucionárias. Eu assisti
Sid & Nancy [com o Gary Oldman] uma centena de anos atrás e vi um
outro documentário sobre os Pistols e de como eles foram explorados
pelo Malcolm Maclaren [que tem uma cara de boiola safado] e do
fracasso da tour americana, que terminou com a dissolução do grupo em
78 [não por causa da tour, mas o último show deles foi nos EUA, em San
Francisco]. O Julien Temple fez um filme legal, usando um monte de
entrevistas antigas e filmagens dos próprios Pistols e intercalou com
entrevistas atuais [onde ele filma contra a luz e você não consegue
ver a cara envelhecida dos músicos], um monte de cenas do cotidiano
inglês dos anos 70 [alguns comerciais cafonérrimos e programas de tv
com humoristas bizarros] e cenas do filme Richard III, com o Laurence
Olivier de peruca negra.
O filme conta toda a curta história do grupo, que se iniciou com os
amigos Paul Cook e Steve Jones. Eles queriam montar uma banda, mas não
sabiam tocar. Acharam um vocalista perfeito, que também não sabia
cantar e com a ajuda do manipulador profissional, Malcolm Maclaren,
montaram o Sex Pistols. John Lydon, aka, Johnny Rotten cantava como um
demente, numa pose de corcunda de Notre Dame e tinha um carisma que
substituía a falta da voz afinada. Glen Matlock foi baixista dos
Pistols por um tempo, até ser substituído por Sid Vicious. Os motivos
da saída de Matlock - ele não se encaixava no perfil da banda, pois
era muito limpinho e lavava os pés toda hora. Vamos ver por que
Vicious foi o substituto perfeito para Matlock numa cena onde ele
cutuca as unhas imundas, cheias de cracas pretas, num close em zoom da
câmera.
Os Sex Pistols surgiram numa época de pessimismo da classe
trabalhadora inglesa com relação ao governo e a política. Uma greve de
lixeiros assolava a Grã-Bretanha por anos e toneladas de sacos de lixo
estavam empilhados por todo canto. Protestos políticos incendiavam as
ruas. Johnny Rotten apenas transformou os sacos de lixo num fashion
statement e o punk virou uma filosofia, uma corrente dentro do
Rock'n'roll, que marcou uma geração. Tudo isso com uma ajudazinha do
maquiavélico Malcolm MacLaren e sua namorada estilista, Vivianne
Westwood.
Uma cena imperdível em The Filth and The Fury mostra um clipe da
música Who Killed Bambi, onde o baterista dos Pistols, Paul Cook dá
carona para três figuras exóticas numa estrada deserta e acaba atacado
sexualmente por eles. Um deles é ninguém menos que o Sting, na sua
primeira aparição [e que canastrice!] cinematográfica!
O filme tem várias cenas com a groupie-hooker-junkie, Nancy Spungen,
que parecia uma versão hardcore da Courtney Love nos tempos do Kurt
Cobain. Ela 'colou' nos Pistols e não desgrudou nem depois de morta,
levando o mais junkie dos Pistols pro túmulo também. Os monólogos do
Sid Vicious parecem ter sido feitos ontem e dá a impressão que ele nem
morreu. O cara fala pra câmera com o rosto todo inchado e ralado e uma
camiseta vermelha com a suástica no peito. Os Sex Pistols tinham muita
atitude, mas eu sempre tive a impressão que noventa por cento da pose
era original e espontânea. Eles eram muito podres até pra serem
manipulados e enlatados pela indústria fonográfica. Os malditos
bastardos canalhas desapareceram, mas não foram esquecidos.
"God save the queen her fascist regime
it made you a moron a potential H bomb !
God save the queen she ain't no human being
there is no future in England's dreaming
Don't be told what you want don't be told what you need
there's no future no future no future for you"
|