The Cell



Numa paisagem de deserto, com dunas e dunas de areia em amarelo alaranjado, uma mulher vestida de branco como um pássaro cavalga um cavalo negro. Ela desce do cavalo, que vira uma peça de xadrez, e caminha incessantemente pelas dunas. Um menino encostado num tronco de árvore morta provoca um reflexo com um talismã espelhado, como que sinalizando para a mulher-pássaro. Ela o encontra e travam um diálogo estranho. Eles teriam que ir navegar naquele dia, mas o menino não consegue. Eles vêem a carcaça de um navio ao longe, depois um navio pequeno caído na areia. O menino diz que o ‘boogie-man’ não quer que ele saia dali e seu rosto se transforma numa careta demoníaca.

A terapeuta infantil, Catherine Deane (Jennifer Lopez) está trabalhando com seu pequeno paciente Edward, que é um menino que está em coma desde o dia em que sofreu um acidente de barco e se afogou. Catherine está tratando dele numa clínica especial, onde modernos experimentos neurológicos são colocados em prática. Por sua extrema capacidade de empatia e experiência como assistente social de crianças, Catherine foi escolhida para desempenhar um papel importante neste projeto. É na mente inconsciente de Edward que a terapeuta, vestida de branco como uma mulher pássaro, faz contato com o menino que está catatônico para o mundo.

Carl Stargher (Vincent D’Onfrio) é um psicopata que rapta, encarcera, tortura e mata suas vitimas todas mulheres de maneira horripilante. Ele as mantém numa cela de vidro, onde elas são alimentadas, filmadas e que vai lentamente se enchendo de água, até afogá-las num curto período de 40 horas. Depois disso o corpo das vitimas é descolorido numa banheira com água sanitária e Stargher as manipulas como se fossem bonecas. Ele é um doente mental, um esquizofrênico, uma vítima da violência que respondeu aos abusos sofridos com mais violência. Ele tem espasmos de dores de cabeça. Seu cachorro albino o acompanha em tudo e até o ajuda na captura de suas vitimas. Stargher finaliza seu ritual macabro com sua penúltima vítima e encarcera a última na cela de vidro, quando o FBI, no comando do agente Peter Novak (Vince Vaughn), cerca a sua casa e o encontra em coma irreversível, fulminado por um ataque epilético. Como o FBI vai conseguir encontrar a sua última vítima, se somente o serial killer sabe a localização da cela de vidro?

A empática Catherine aceita entrar na mente de Carl Stargher sem piscar. Ela é uma pessoa dedicada a ajudar os que estão sofrendo. Ela vai fazer isso para ajudar a moça enclausurada na cela de vidro, mas no decorrer da sua viagem à mente deturpada do psicopata, ela também vai encontrar um outro alguém para ajudar. A viagem não será fácil e pode não ter volta.

É difícil assistir The Cell sem lembrar de cenas do mais famoso filme sobre serial killers da história do cinema O Silêncio dos Inocentes. Talvez ele tenha sido o pioneiro em apresentar todo o horror dos crimes bizarros e hediondos, mas outros filmes seguiram a sua trilha com o mesmo empenho e bons resultados e acho que dá pra ousar classificar The Cell como um deles.

No filme do indiano-inglês, Tarsem Singh, o enfoque é colocado no psicológico do assassino, mas sem muito intelectualismo e subliminalismo. O diretor transforma conceitos abstratos em imagens reais, mostrando o que realmente existe dentro da cabeça de um serial killer. O visual é estonteante e o resultado desse passeio incônscio é de uma beleza realmente onírica. Quem costuma sonhar muitíssimo vai reconhecer aqueles padrões de sonhos, onde as representações do imaginário estão misturadas com imagens da realidade, e se mostram em cortes abruptos, movimentos lentos e incontroláveis, sons inaudíveis, pastosos ou distorcidos, além de todo o simbolismo e as toneladas de informações sobre nós e nossa vida presente e passada que carregamos no nosso inconsciente, deixando apenas vazar quando estamos sonhando. A mente de Carl Stargher é um lugar muito estranho e lá dentro estão a sua criança (com quem Catherine faz o primeiro contato), o seu adulto e o monstro, que é o responsável pelos seus crimes e que precisa ser dominado. E dominá-lo não será tarefa fácil.

The Cell tem uma estória consistente e bem amarrada, com excelentes efeitos visuais, mas mesmo assim deixa a vaga sensação de que algo não está engrenando bem. Esse algo é a participação da atriz-cantora-ícone latino Jennifer Lopez, no papel principal da trama. Ela até que se esforça, mas não consegue despertar a empatia necessária e acaba falhando em dar credibilidade para a personagem Catherine. O apelo ficou mais para o visual da atriz, com saias justas, camisetas decotadas, tamancos de plataforma e até uma fantasia de Virgem de Guadalupe nos momentos decisivos do filme. Talvez, quem sabe, se Catherine tivesse caído nas mãos de uma atriz do calibre de Jodie Foster, The Cell poderia ter ganho uns pontinhos a mais na competição pelo ‘segundo melhor filme sobre serial killer’ desde Silencio dos Inocentes. Mas apesar do diretor Tarsem ter seu curriculum recheado apenas de comerciais de tv e videos musicais inovativos, o seu primeiro longa-metragem foi certamente uma boa estréia.






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