Where The Heart Is
Se eu tivesse lido pelo menos uma pequena crítica, não teria ido assistir Where The Heart Is. Fui ao cinema com essa idéia de que iria ver um filme nos moldes de Terms of Endearment (aquele clássico dos anos 80, onde a Debra Winger tem um monte de filhos e morre de câncer e a Shirley MacLaine transa com o Jack Nicholson) martelando na minha cabeça. Mas eu estava redondamente enganada e só descobri isso quando já estava presa no cinema pelo roteiro rocambolesco do filme, e silenciosamente tentando adivinhar qual seria o final para esse 'pacote de cenas clichês'.
Novalee Nation (Natalie Portman) deixa o trailer onde vive no Tennessee e parte, juntamente com o seu namorado-pretendente-a-cantor Willy Jack Pickens (Dylan Bruno), para tentar a sorte na Califórnia. Ela explica nas primeiras cenas do filme que tem um problema com o número 5. Coisas ruins acontecem toda vez que este número é mencionado. O carro de Willy é tão velho e esbagaçado, que tem um buraco no chão, justamente aos pés de Novalee, que perde seus sapatos enquanto dorme. Eles param num Wal-Mart em Sequoia, Oklahoma, e enquanto Novalee faz xixi e compra um chinelo de dedo para seus pés descalços (que custam $5,55), Willy decide seguir em frente sem ela. Novalee fica sozinha, sem dinheiro, sem ter para onde ir e passa 6 semanas vivendo escondida dentro da loja. Até que numa bela noite ela começa a ter as contrações do parto dentro do Wal-Mart, é salva pelo bibliotecário local Forney Hull (James Frain) e vira celebridade - a mãe do Wal-Mart.
A partir daí toda sorte de acontecimentos, trágicos e felizes, acontecem na vida de Novalee e sua filha - que é chamada de Americus Nation, nem vamos comentar as implicações desse nome extremamente simbólico. Novalee vai viver com uma alcoólatra benevolente e generosa, Sister Husband (Stockard Channing). Aos 5 meses Americus é sequestrada, indo parar na manjedoura de um presépio (mais simbolismo sem comentários…). Um tornado passa pela vizinhança de Novalee, matando sua benfeitora, Sister Husband, que lhe deixa uma herança. Novalee ganha um concurso da Kodak (vão contando os merchandises) com uma foto de Americus no meio da destruição do tornado e torna-se uma fotógrafa profissional. Com a ajuda dos amigos e do dinheiro herdado de Sister Husband, ela constrói sua tão sonhada casa. No aniversário de 5 anos de Americus, a notícia de que o fracassado e beberrão Willy Jack perdeu as pernas num acidente surrel nos trilhos do trem, chega até Novalee. É tanta virada novelesca na trama, que começamos a sentir enjôos dentro do cinema.
No meio das aventuras de Novalee, encaixam-se outras histórias (não menos rocambolescas) de Forney e sua irmã alcoólatra e desiquilibrada (o índice de alcoolismo em Oklahoma deve ser assustador, hein?) e Lexie Coop (Ashley Judd), a amiga de Novalee, enfermeira ingênua e sexy mãe solteira de 5 filhos , que acaba se envolvendo com um molestador sexual de crianças. Apenas duas breves performances fazem valer o filme: Sally Field, como a mãe piranhosa e desnaturada de Novalee e Joan Cusack, como a agente de música country que controla e administra a carreira de Willy Jack. Foi a presença delas no trailer de Where The Heart Is que me fizeram pensar que o filme valia a pena.
Mas somando todos os abandonos, o alcoolismo generalizado, o fanatismo religioso, a pobreza, os nomes estapafúrdios, os tornados, os raptos, os abusos sexuais de crianças, os acidentes estranhos em linhas de trem, os altos e baixos da vida das pessoas simples de Sequoia - Oklahoma, o resultado final é cem porcento positivo. E saimos do cinema com a certeza que Where The Heart Is ficaria mais apropriado num canal de televisão, no horário das soap-operas.
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